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Luke Kirby vive Daniel, o amor proibido de Margo (Michelle Williams) |
Fazer xixi enquanto o marido escova os dentes. A cena íntima se repete duas vezes – em contextos diferentes – em "Entre o Amor e a Paixão", e revela a falta de encanto e mistério onde desemboca o casamento. Mesmo os mais recentes, como o de Margo (Michelle Williams) e Lou (Seth Rogen), juntos há cinco anos.
No entanto, a falta de brilho na rotina dos dois, divertida e cheia de afeto, só fica evidente quando Margo conhece Daniel (Luke Kirby), um sedutor estranho com quem desenvolve uma conexão imediata. Os dois estão longe de casa e, por coincidência, voltam no mesmo avião. Ao descobrirem que moram perto um do outro, dividem um táxi. Acabam por saber que são vizinhos. Imediatamente Margo percebe que não terá como escapar da realização do que já fantasia intensamente.
Com uma bela fotografia, em cores quentes que remetem ao verão e à jovialidade dos personagens, a jovem diretora Sarah Polley (do tocante "Longe Dela") guia o espectador no testemunho do desencanto e do nascimento de uma paixão fresca e cheia de promessas. Acerta ao não tentar definir limites entre um sentimento e outro, sobrepondo camadas de incertezas.
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Seth Rogen vive Lou, o marido de Margo |
Michelle Williams, por sua vez, se mostra à vontade como a personagem dividida. Consegue evidenciar a repressão a que Margo se impõe, seu amor pelo marido e, ao mesmo tempo, a vontade de se entregar a Daniel. Querer e rejeição se alternam ao longo de quase todo o filme para que, no fim, o novo amor, enfim realizado, se mostre tão opaco quanto o primeiro.
A virada é o maior mérito do longa, até então previsível. A mensagem é profundamente desalentadora: não há amor que não seja arranhado pela rotina. Não é uma obra-prima, mas é um dos poucos filmes a tratar com honestidade da monotonia do casamento entre jovens – enquanto uma Hollywood inteira propõe exatamente o contrário: a felicidade inabalável ao lado da "pessoa perfeita".
TRILHA
O filme, canadense, feito por uma diretora canadense e com atores canadenses (Seth Rogen e Luke Kirby) também tem trilha canadense! As doces canções de Feist permeiam a história, mas é "Take This Waltz" ("Aceite Esta Valsa", em tradução livre), cantada por Leonard Cohen (também canadense), a música que mais bem define a história. Não é à toa que esse é o título original da produção. Tocada em uma longa e bela sequência em 360º, a música com letra de Federico García Lorca quase resgata a fé na paixão duradoura.
Fonte
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