quinta-feira, 26 de abril de 2012

Filme sobre Marilyn Monroe revive o mito

O filme The Prince and the Showgirl, de 1957 – que, no Brasil, ganhou o título de O Príncipe Encantado –, teve a proeza de reunir dois grandes ícones que, à época, ocupavam polos totalmente opostos. De um lado, estava a americana Marilyn Monroe, diva de Hollywood, mais famosa pelos atributos físicos do que propriamente pelo talento em cena. Do outro, o inglês Laurence Olivier, grande ator e diretor de teatro, e um dos principais intérpretes da obra de William Shakespeare em todos os tempos. 


Mais do que uma comédia leve com potencial para o sucesso, O Príncipe Encantado significava, para ambas as partes, uma inversão dos papéis que representavam até então. Ele era um grande ator que queria ser uma estrela e ela, uma estrela que queria ser uma grande atriz. O encontro de almas tão díspares acabou por transformar os sets de filmagem, na Inglaterra, em uma espécie de campo de batalha. É esse cenário que serve como pano de fundo para o longa Sete Dias com Marilyn, estrelado por Michelle Williams, que estreia amanhã nos cinemas. Inspirado no livro Minha Semana com Marilyn (Ed. Seoman, R$ 24,90), de Colin Clark, Sete Dias com Marilyn concentra-se no curto, porém intenso – pelo menos, para Clark – período de convivência entre o autor e Marilyn. Quando O Príncipe Encantado foi rodado, o inglês Clark (no cinema, interpretado por Eddie Redmayne) foi contratado como terceiro diretor. Apesar do aparente prestígio conferido pelo cargo, o rapaz, então com 23 anos, não passava de um faz-tudo nos bastidores. Mas, aos poucos, foi conquistando a confiança da equipe, sobretudo de Laurence Olivier, diretor e protagonista do filme. Clark funcionava como uma figura apaziguadora nas crises que se instauravam entre Olivier e Marilyn. Acompanhada de seu então marido, o dramaturgo Arthur Miller, a atriz chegou à Inglaterra já fragilizada. Seu casamento com Miller não ia bem das pernas. Aliás, a união dos dois causou controvérsias. Afinal, ele era tido como um intelectual e ela, uma loira bonita, mas burra. E Marilyn sentiu o peso da pressão. Existia ainda o fato de ela querer ser levada a sério como atriz. Até aquela altura, a diva havia colecionado sucessos que só reforçavam o estereotipo do qual ela tanto se empenhava em fugir, como O Pecado Mora ao Lado (1955) e Nunca Fui Santa (1956). Para ampará-la nesse campo, Marilyn levou na viagem sua professora de artes dramáticas Paula Strasberg, mulher de Lee Strasberg, diretor da escola Actor’s Studio. Com formação shakespeariana, Olivier abominava o chamado ‘O Método’, da Actor’s, que, em linhas gerais, propõe que o ator crie pensamentos e emoções do personagem a partir de experiências próprias. Para suportar suas inseguranças na vida pessoal, a atriz recorria a doses exageradas de tranquilizantes – e à doce ingenuidade do jovem Colin Clark. Marilyn viu naquele garoto que nutria um amor platônico por ela (e qual homem não nutria?) um porto seguro quando Arthur Miller resolveu voltar para os EUA no meio das filmagens e o medo frequente de atuar diante de Olivier tirava seu chão. Enchimentos Assim como as histórias de bastidores de O Príncipe Encantado, Sete Dias com Marilyn apoia-se em duas figuras. No caso, nas atuações de Michelle Williams, como Marilyn, e de Kenneth Branagh, como Olivier. Há tempos, o britânico Branagh não fazia um trabalho de destaque no cinema, diferente do que ocorreu com sua carreira no final dos 80 e ao longo dos anos 90, quando o ator e diretor emplacou filmes como Henrique V e Voltar a Morrer. Aliás, Branagh mostra-se confortável como Olivier, já que os dois têm a mesma formação. Quanto a Michelle, muito se falou dos enchimentos usados pela atriz de corpo mignon para reproduzir os generosos contornos do shape violão da Marilyn original. Mas seu desafio foi muito além da “problemática” da transformação visual. Além de encarnar uma personagem real, o que já é um convite para uma encenação caricata, a atriz tinha diante de si outro agravante: reviver o mito platinado que já está configurado no inconsciente coletivo como imaculável. Mas Michelle encarnou sua Marilyn com dignidade, apropriando-se, sim, de trejeitos da diva, mas focando mais em sua essência. Pelo papel, ela ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz de comédia ou musical, e foi indicada ao Oscar. Um desempenho que talvez uma atriz com enchimento natural não teria nem de longe.

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